Capitulo 1 - 2


02/08 
Querido Diário,
tudo bem que escrever isso soa meio estranho vindo de um homem, mas é assim que pretendo escrever. Não sei como escrever em diários, muito menos tenho experiência com isso mas necessito de um meio para externas meus pensamentos. E qual a melhor maneira de poder aquietar um adolescente de 16 anos do que escrevendo seus mais profundos sentimentos em um pedaço de papel que não vai possuir opinião nem ao menos retrucar?
Deixe eu me apresentar, porque se em um futuro distante, ou não tão distante assim, alguém vier a ler este caderno, essa pessoa tem o direito de saber e conhecer melhor o autor deste diário.
Acho que como qualquer adolescente eu sou muito normal. O que claramente é uma enorme de uma tremenda mentira.
De acordo com tudo o que vi e vivi nesses 16 anos (dessa forma até parece que eu presenciei muita coisa) só pelo simples fato da minha pessoa sentir gosto em estudar já não sou considerado normal por muitos a minha volta. Sou um homem cis de baixa estatura, se eu pertencesse ao sexo feminino estaria de bom grado, mas infelizmente não sou. Desde que me conheço por gente uso esse conjunto de armação de vidro que ficam localizados na frente dos meus olhos, vulgarmente conhecidos como óculos de grau. Meu cabelo é preto e até um pouco comprido pois se não aparado regularmente, me faz ficar impossibilitado de poder enxergar as coisas que acontecem ao meu redor.
Desde que me recordo fui taxado de nerd. Qual o problema em gostar de equações, de uma boa leitura Freudiana ou até mesmo de conversar com pessoas mais velhas a respeito das crises mundiais? E com isso, sou o nerd da escola. Pelo menos eu era.
Minha vida era bem regular. Eu acordava cedo, comia um café da manhã completo e balanceado e ia para o colégio. Onde ficava pelo menos de nove a dez horas por dia. Como não sou bom em esportes eu cuidava de outras coisas, digamos como ser o presidente do grêmio estudantil. Eu estudava no mesmo colégio a 3 anos e apesar de ter entrado na última série do fundamental foi fácil me entrosar com os outros alunos devido ao estimulo constante da escola aos estudos. A cada semana acontecia um concurso de redação e ocorriam debates entre as turmas. A turma que mais tivesse pontos de debate ao final do mês ganharia mais tempo para fazer as provas do período. Era um local maravilhoso de se estar. Apesar de rigoroso, eu me dava bem com a maioria das pessoas., de diferentes tribos. Mesmo quem eu acho muito falsa eu sou uma pessoa bem ética. E como presidente eu tinha que tratar todos bem. 
A verdadeira razão pela qual começo a escrever neste caderno a que estou me referindo como diário, é que meu pai foi transferido para uma outra cidade e com isso sou obrigado a mudar junto com minha família. E meus pais são um casal perfeito, nunca aceitariam ficar longe um do outro. E por ser menor de idade sou obrigado a me mudar junto, pois aparentemente morar numa cidade a 6 horas de distância quando se tem apenas 16 anos é impossível, impraticável e totalmente irresponsável. No começo eu fiquei bem chateado com meu pai, por ele ter esperado até o último instante para me contar que isso iria acontecer. Apenas tive tempo de me despedir de algumas pessoas e logo já estava empacotando tudo em meu quarto. É o que acontece quando seu pai diz na sexta que a família vai se mudar no domingo. 
Acho que vejo nessa mudança de habitação uma possibilidade de poder começar de novo. De poder tentar ser mais livre e mais independente e assim mostrar a meus pais como vou ter capacidade de voltar para minha antiga cidade e cursar a faculdade lá.  Já estava acostumado com as coisas por lá, não é preciso mexer no que não precisa de concerto. E por isso quero registrar nestas páginas como eu era e como vou tentar ser. Vou tentar aos poucos ir contando mais sobre mim, se eu falasse tudo de uma vez acho que seria bem sem graça.
Eu faço uma promessa aqui e agora. Este pequeno filhote canino deitado aos meus pés será testemunha desse fato real - sim, eu sei que isso é uma tautologia é apenas para enfatizar o que eu vou escrever. Eu prometo, que na escola nova, mesmo se eu souber a resposta para a pergunta que o professor fizer, não irei responder. Nesse momento você deve estar se perguntando o porque dessa minha decisão. Não quero parecer estranho ou ser taxado de nerd logo no meu primeiro dia de aula, nem nunca para falar a verdade. Apesar de não me incomodar como me chamam, na maioria das vezes ser nerd está associado a algo ruim. Apesar de não achar que tenho culpa por estudar o conteúdo todo previamente e também aqueles que somente são dado em aulas na faculdade em minhas horas livres. Sou uma pessoa intelectual. E muito modesta também. Percebeu? Também sou capaz de fazer piadas, mesmo que na maioria das vezes elas não sejam reconhecidas por quase ninguém.
Farei mais uma promessa agora. Prometo não virar a cara para ninguém sem ao menos conversar um pouco com essa pessoa. Por mais que ela, ou ele, possa me parecer fútil, só se importar com coisas levianas e ser burro feito uma porta, porque nada disso importa. Como amo minha ironia. Mentira, claro que importa. Eu não conseguiria e não consigo conviver no mesmo ambiente que esse tipo de gente. Por isso que nas aulas eu sento na frente para evitar de ficar olhando pela sala e me desapontando. Mas prometo que tentarei mudar. Me esforçarei ao máximo. Não garanto cem por cento de mudança, quem sabe aproximadamente uns trinta e cinco por cento. Ser presidente acabava sendo exaustante nesse quesito pois eu era obrigado a ser simpático com todos. Porém se eu virar a cara logo no começo não vou conseguir desenvolver amizade com ninguém. E por mais que eu não pretenda ficar por aqui definitivamente, quero que minha estadia seja agradável e não um tremendo pesadelo. 
E a última promessa que farei aqui neste dia é que tentarei escrever em meu caderno todos os dias. Na minha concepção diário é algo de pessoas egocêntricas, que escrevem bons acontecimentos e depois ficam relendo para se acharem melhor. Mas eu não sou assim. E não, dessa vez não é ironia. Apenas escrevo aqui como uma forma de expressão. Ou até mesmo como um diário científico. 
Pode não parecer, porque eu escondo te todas as formas possíveis, mas mudar é algo extremamente difícil para mim. Eu sei, eu sei. Não me relaciono bem com as pessoas e essa inesperada mudança deveria me deixar animado como uma forma de poder tornar as coisas melhores. Mas não consigo ficar contente com tudo isso. Sei que pode parecer estranho e até algo anormal. Mas eu já estava acostumado com todo aquele ambiente que me cercava. Mesmo só trocando palavras de bom dia e boa tarde com a maioria das pessoas eu sabia como elas reagiriam ou até mesmo como pensavam. Eu sabia a qual tribo cada individuo pertencia, sabia o que esperar de cada um deles, conheci os costumes do colégio como só se sente perto da quadra se você quer jogar, senão mesmo contra sua vontade eles te arrastariam para lá. Eram esses mínimos detalhes que eu mais gostava na escola. Passei tanto tempo colhendo informações que quando chegou a hora de utiliza-las não soube como fazer. Para mim, esta é a minha maior diversão: observar pessoas. É incrível o jeito único de cada um que está presente no mundo, como andam, como agem, fico me divertindo só em olhar um grupo qualquer e ficar imaginando hipóteses para a história por trás de cada um. Tirando observar só tenho mais duas paixões, que apesar do que você pode estar pensando não tem muito a ver com estudos.

Ouvi um barulho alto vindo lá de fora.
Vou dar uma olhada.
Acabei de olhar pela janela e é o caminhão de mudança.
Eu já volto.

É engraçado não?! Escrever "já volto" em um pedaço de papel é meio estranho. Pois se eu parasse de escrever neste exato momento e apenas voltasse dias depois ninguém perceberia. Só se a minha pessoa falasse. Enfim, tentarei ser o mais transparente possível, ou expressivo, como preferir.
Tive que acordar minha mãe agora, para receber os carregadores da empresa de mudança. Não sei como ela consegue. Para mim dormir durante a tarde é algo impraticável. Existem diversas coisas a serem feitas no período após a chegada da escola. E como nós viemos para a casa nova hoje estávamos só esperando nossas coisas chegarem para poder arrumar. Vou esperar de descarregarem para pegar minhas coisas. Minha mãe vai arrumar só as coisas dela e a cozinha. Ela costuma dizer "senão consegue deixar suas coisas arrumadas peça demissão". Logo meu pai vai precisar chegar em casa durante a semana e ainda arrumar as coisas dele. Ele é um clássico homem de negócios, tem algo a ver com marketing e por isso está sempre viajando. Uma coisa única sobre meus pais (que eu já devo ter comentado aqui) é que eles se amam muito. Assim muito mesmo. Só se veem muito pouco. Minha mãe, no momento está desempregada e isso está fazendo que ela entre em uma depressão. Ela tenta focar em cozinhar e cuidar da casa mas ela não foi feita para isso. Como você se sentiria em trabalhar sua vida inteira na mesma empresa multi-nacional e do nada é anunciada a venda dessa empresa e você é despedido? Na minha opinião ela está lidando muito bem com a situação. Mas daqui a pouco ela começa a trabalhar de novo. Quem sabe nessa cidade nova tenha mais opções de empregos.
Devo confessar que estou estranhamente ansioso com amanhã. O que acontecerá amanha para me deixar ansioso? Segunda-feira, será o inicio da minha suposta vida nova. Estar nesta casa grande, vazia sem nada para fazer é desestimulante. Ainda bem que o caminhão chegou, usarei o resto da minha tarde para organizar todas as minhas coisas ou pelo menos partes.
Além de ansioso me sinto preocupado com amanhã. Não sei como devo me portar na sala de aula. Não sei quão rigoroso o colégio é, nem as reações das pessoas.
Logo pela manhã eu fui caminhar pela cidade com o Teko - meu Golden retriever de apenas 20 meses, ganhei ele no meu aniversário do ano passado - e como já pude reparar que essa cidade é bem diferente da minha antiga. Um detalhe meio interessante é que por aqui realmente possui casas com jardins ao invés da selva de prédios a que estou acostumado. Talvez ache companhia para o Teko brincar. 
Minha mãe começou a me gritar para ir ajuda-la a desempacotar as coisas. É melhor eu ir mesmo. Tenho a ligeira impressão de que escrevi um pouco demais para a primeira vez que escrevo. Amanhã devo escrever e contar como foi meu ingresso no novo mundo. A ansiedade não vai ser vitoriosa sobre mim.

- Murai Naoyuki





03/08

Caro diário,


    Não consegui resistir e trouxe o diário comigo. Estava na porta, me preparando para sair enquanto brincava com o Teko quando pensei "E se acontecesse algo digno de ser registrado? E se eu não registrar quando chegar em casa. Vai ficar faltando partes!! Isso é não pode acontecer de maneira alguma... mas para garantir vou levar comigo"


    E agora, estou aqui. Na escola nova. Sentado na segunda fileira no canto esquerdo. Lugar bem estratégico, devo dizer. Assim vou conseguir ver todos que entram na sala sem parecer fofoqueiro e ao mesmo tempo é só virar o rosto para a janela que evito olhares.


    As pessoas daqui não parecem muito diferentes da minha antiga escola. Ao chegar me deparei com o grupo de cinco garotas histéricas, que estavam no meio do caminho impossibilitando a passagem. Elas tinham cara que pertenciam a lideres de torcida. Não tenho poderes psíquicos para adivinhar isso, só consegui reparar pelo assunto que falavam além do uniforme diferenciado. Fiquei esperando um pouco para ver se iriam notar a minha presença, mas é claro que isso não aconteceu. Quando eu me preparei para pedir licença, estava até com a boca já aberta, um garoto passou correndo por mim e esbarrou nas meninas tagarelas, fazendo duas delas caírem no chão. Tive que me segurar para não rir. Foi uma cena muito engraçada. Uma das garotas, que continuava em pé possui uma faixa no braço esquerdo, que deu para reparar que era um emblema de capitã, gritou com todas as forças:"HIROTO!!", ele já estava quase no final do corredor, fiquei impressionado o quanto ele corre rápido. Ele não parou de correr, apenas virou a parte de cima do corpo e gritou de volta:"Foi mal Mizu! Te levo pra sair um dia desses!" e da mesma maneira rápida como ele apareceu, ele sumiu ao virar no final do corredor. Ninguém pareceu reparar no que tinha acontecido, ou pelo menos não deram importância. Aproveitei que as meninas ainda estavam no chão para poder passar rápido por elas.


     Eu fiquei meio perdido para achar a minha sala, já que não era o primeiro dia de aula. Primeiro tive que ir até a diretoria, demoraram uns minutos para me atender. E quando eu finalmente achei minha sala e me sentei, os megafones anunciaram que alunos novos deveriam ir a sala da diretoria para a reunião. Aparentemente a escola recebe bastante alunos novos todos os meses. Contando comigo, eram 6 alunos na sala do diretor. Ele nos deu recomendações para boas condutas, que deveríamos entrar em algum clube naquela semana, explicou como funcionava as provas e os eventos abertos da escola. Não foi uma reunião demorada, mas precisei sair rápido do local. A sala estava cheia e nunca me senti confortável em locais apertados e a ao voltar para a sala o professor ainda não havia chegado.


     Tenho a impressão de que esse é o único colégio do bairro. Além do tamanho enorme, ele parece ter de tudo. No final das aulas eu vou explorar um pouco o local. Nossa, nem parece eu falando. Mas relembrando que quero mudar, e gosto de conhecer lugares novos apesar de tudo. Quem sabe aqui tenha um clube de química. O que? Não é porque vou mudar um pouco que vou deixar de fazer as coisas que eu gosto. Uma das minhas outras paixões é desenhar, mas isso é algo que eu não gosto de fazer em grupo. É algo pessoal que me envolvo muito. Acredito que só a minha família deve saber que desenho.


   Vi muitos alunos saindo da sala e prestando atenção no que conversavam o professor daquele tempo estava preso em um engarrafamento pois ele vem de muito longe. Aproveitei para começar a andar pela escola observando o local. Ao chegar do lado de fora eu a primeira coisa que eu vi foi um bosque. Até que era bonito. Muitas árvores, plantas e até tinha uma trilha por ali. Mas apesar de adorar desenhar paisagens eu simplesmente ODEIO árvores, coisas naturais, insetos e afins. São coisas sujas que me irritam profundamente. Só de me imaginar passeando por aquela trilha fiquei enjoado. Enquanto em me encostava na parede para respirar um pouco vi que sentado entre duas arvores tinha um grupo de uns seis meninos. É claro como água potável que aquele é o grupo dos encrenqueiros do colégio. O grupo de bad boys da minha antiga escola era fácil de lidar, já tive muitas experiências com eles. As camisas meio abertas, por fora das calças, correntes penduradas, piercings nas sobrancelhas e no lábio inferior, tatuagens no pescoço e no braço. Apesar de achar que eles são novos para serem tatuados teve um deles que me chamou particularmente mais atenção. Pela distância não consegui ver o que era, mas a tatuagem dele parecia descer do pescoço e pegava o braço. Apesar de que eram bem parecidos esse parecia diferente dos outros, como se não pertencesse ao mesmo grupo. Não sei como mas é o que eu sentia. O cabelo dele parece a pele de uma pantera de tão preto que é além de ser curto e espetado, ele é magro,  aparentemente alto, ainda não consegui o ver em pé logo não sei se realmente é ou se foi impressão minha. Não sei dizer o porque dele ter despertado o meu interesse, só sei que continuei encostado na parede observando-o. No próximo instante ele retirou do bolso na camisa social que ele vestia, um ipod. O que seria bastante normal se não fosse que ele abriu o ipod. Sim, isso mesmo. Abriu. E a minha pessoa possui a absoluta certeza de que a vossa pessoa não irá adivinhar o que ele tirou de dentro dele. E para acabar com o suspense irei contar. Um cigarro. Aquilo que ele segurava não era apenas um ipod. Era um porta cigarro geek. [Para quem não sabe, geek seria uma outra maneira de chamar uma pessoa de nerd só que não são tão fanáticos por aprender, curtem mais tecnologias.] Isso era simplesmente encantador. Não, não estou sendo irônico. Apenas achei muito prático e de uma ótima criatividade. Como eu não pensei nisso antes? Teria ganhado muito dinheiro com isso. Honestamente, pessoas que possuem criatividades são as melhores. Quando o garoto acendeu o cigarro e colocou a boca, fiquei indignado. E qualquer um que passasse por ali naquele exato momento perceberia a minha expressão de frustração. Eu não consigo esconder muito bem meus sentimentos, caso não planeje. Por isso que odeio ser pego de surpresa. Fumar é um ato tão grotesco, você inala uma fumaça que cheira terrivelmente mal. além das prejudicar a saúde de quem está ao seu redor. Não sei como as pessoas são capazes de cometer esse ato repugnante. Ainda mais ele, como aquela pele super lisa, que lembra uma bunda de bebê. Realmente, fiquei muito incomodado com aquilo e não sei explicar direito o porque. Então comecei a observar os outros garotos também sentados no chão. Havia ao pés de cada um deles uma garrafa de cerveja, daquelas de vidro. Foi então que eu senti algo no meu braço. Olhei desesperado para baixo e me deparei com o que deveria ser um percevejo. Fiquei paralisado para evitar de gritar a atrair olhares para mim. Mas ele resolveu voar para bem longe dali. Como ainda tava encostado na parede, suspirei caindo sentado no chão. Ao levantar o rosto meus olhos são direcionados para lá o menino do ipod estava me encarando. Os outros pareciam não perceber pois continuavam conversando normalmente. Eu não soube o que fazer, então fiz a única coisa que poderia ser feita naquele momento. Eu voltei para a sala de aula.


    Fui andando em direção a sala e voltei a me sentar no meu lugar, aguardando a entrada do professor. As pessoas aqui são realmente diferentes. Eles mudaram as cadeiras de lugar, fazendo círculos e colocando uma de frente a outra para facilitar a conversação. Isso é um tremendo absurdo. Quando eu era presidente do grêmio isso era umas das coisas que não era permitido fazer. Esse fato só mostra como eles não possuem maturidade para a turma que estão.


    Você não vai acreditar no susto que levei agora, as pessoas até me olharam porque dei um salto na cadeira. O sinal bateu. Isso é algo que com certeza nunca vou me acostumar e vou sempre levar um susto com esse barulho agudo que indica a troca de professores.


     Quem diria. O professor ainda não entrou em sala mas todos já estão arrumando as cadeiras da sala. Talvez minha opinião sobre eles possa estar um pouco equivocada.


     O local que escolhi sentar fica do lado da janela. Com isso sou capaz de ver tudo do lado de fora. Minha sala é no segundo andar que me permite ver as quadras e o bosque que fica atrás da escola. Será que ele ainda está lá? Ou será que já foi para a sala? Tenho a impressão de que ele é do último ano. Porque? Porque ele tem cara de ter ser mais velho. Também tem uma arquibancada do lado da quadra principal. Grande até. E tem pessoas ali sentadas. Matando aula já no primeiro dia de aula. Eles com certeza não querem nada. Mas como eles estão nas dependências da escola em horário de aula , alguém deve ir chamar a atenção deles. *risos* Só foi eu pensar nisso que apareceu algum responsável e está mandando eles entrarem. Eles apenas se levantaram quando o tal responsável foi chegando perto mexendo os braços. Ele não deve estar naquele grupo. Tenho certeza de que ele não levantaria na mesma hora que mandassem, e se desse mole ele continuaria lá e convenceria todos que está fazendo algo certo. Essa foi a impressão que tive apenas de olhar para ele.


    Vejam só, uma professora. Qual deve ser a matéria que ela irá ensinar? Está escrevendo seu nome no quadro. Adrianna Ricci. Ela parece ser francesa e com esse sobrenome tenho quase certeza disso. MATEMÁTICA??? Realmente, este colégio é estranho.



- Murai Naoyuki








03/08 - parte 2 - 17:36


Oi diário,

    Nada como poder estar deitado de bruços na sua cama para relaxar com seu cachorro aos seus pés após um dia cansativo.

    No período da tarde ocorrem oficinas no colégio. Como o diretor fez questão de frizar que deveríamos nos inscrever em algum clube eu visitei em algumas. Fotografia, química, matemática e entre outras. Mas nenhuma me atraiu. Contudo, entretanto, todavia [adoro essa combinações das palavras] teve uma oficina que despertou o meu interesse quando já havia desistido de achar alguma que me animasse.


     Quando eu menos esperava ocorreu quando eu estava voltando para a sala pegar meus pertences. Quando passei por uma porta maior que as outras. Havia notas musicais coladas na porta, era a sala de música. Qualquer pessoa que passasse ali era capaz de ouvir bem baixo, por causa do isolamento acústico que havia colocado na porta e em toda sala, todos os instrumentos a serem tocados. Alguns tinham cordas, outros eram de sopro. Mas havia um som que me chamou a atenção. Era um som ritmado e forte. Quando abri a porta sei que meus olhos brilharam ao ver o instrumento que estava reproduzindo aquele som maravilhoso aos meus ouvidos. A bateria. Fiquei simplesmente boquiaberto. Era uma bateria do último modelo, lançada neste ano. Além do que aquele baterista tocava muito bem. Eu não ouvia mais os outros instrumentos apenas a bateria. A vontade de sentar naquele banco e tocar tomou conta de mim. Fui chegando cada vez mais perto para pedir ao baterista que me deixasse tocar ma vez. Não sei quantas pessoas haviam na sala, nem quantas olhavam estranho para mim por eu ir entrando na sala de qualquer jeito. Só agora vejo o que fiz foi errado. Mas aquele som, ele me dominou totalmente. Caso já tenha adivinhado, bateria é minha outra paixão. Eu comecei a tocar quando era pequeno. Meu irmão mais velho pediu uma bateria e eu ganhei um violino. Mas depois de poucos meses ele desistiu porque precisa de comprometimento para aprender. E eu tentei um dia e me apaixonei. Desde então toco esses dois instrumentos, violino porque meus pais querem. E bateria porque é libertador. Isso é outra coisa que só meus pais sabem. Na nossa antiga casa eu tocava todos os dias, desde que não interferisse nos meus afazeres e compromissos. Mas pelo menos a uns dois meses atrás, meu cachorro conseguiu furar toda minha bateria durante uma tempestade. Os barulhos alto dos trovões o assustaram, ele saiu correndo, bateu na bateria e a destruiu. Não sei direito como aconteceu, só que quando cheguei ele estava dentro do tambor. Desde então não tenho tocado bateria e sinto uma grande falta. Até porque como meus pais não gostam muito, não vão comprar outra para mim. Só vou conseguir outra quando começar a trabalhar. O que não vai ser agora. 


   Enquanto eu ficava olhando encantado para o cara tocando a bateria foi quando aquele barulho insuportável soou novamente, mas dessa vez anunciando o término das aulas. E o som da bateria conseguiu ser ofuscado por passos e pessoas conversando alto. Quando me dei conta estava sozinho, na sala de música. era a oportunidade perfeita. Sentar ali e tocar. Mas o inspetor entrou na sala quebrando a linha do meu pensamento. Sai da sala meio frustado, mas decidido de falar com o baterista amanhã. Só tem um pequeno problema. Não lembro quem era. Eu fiquei tão concentrado vendo os movimentos da mão dele que não reparei no rosto. Pelo menos já sei que vai ser nesse clube que vou me inscrever.


    Então, com essa experiencia super animada,[sim, fui irônico] fui pegar minhas coisas na sala. E os poucos alunos que restavam eram os que iriam fazer a limpeza de suas salas. A sala do clube de música fica no primeiro andar, quando cheguei no segundo andar não tinha ninguém a vista. Vi algumas pessoas descendo do terceiro andar, pela escada principal. Quando abri a porta da minha sala tinha uma mega surpresa. Ele estava lá, sentado. Ele. O cara que vi fumando pela manhã. E me esperando (se bem que naquele momento eu não sabia o porque dele estar sentado na mesa ao lado da minha). Pera. Perdoe-me. Esqueci de contar-lhes do que havia acontecido.


     De manhã, logo após a professora entrar na sala. O professor de Educação Física abriu a porta bruscamente e o empurrou dentro da sala dizendo: "Peguei esse matando aula lá na quadra." A senhorita Ricci ( ela não usava aliança por isso o senhorita) apenas suspirou e disse com uma voz bem calma: "As aulas mal começaram e já está matando aula Amane Shinji?" Esse nome não tinha nada a ver com ele. Não sei porque, apenas não tinha. Ele não respondeu nada, apenas se ajeitou e foi em direção a uma cadeira. A que estava do meu lado. Quando ele se sentou eu pude observa-lo mais de perto. Seus olhos demonstravam total desprezo por aquelas pessoas ao redor, ele tinha dois anéis no mesmo dedo anelar da mão esquerda. E consegui ver que a tatuagem dele na verdade começava nas costas e subia até o pescoço. Quando voltei a olhar para o rosto dele vi que o mesmo estava me encarando. Desviei instantemente um tanto quanto encabulado. E pude perceber (vendo de canto de olho) que ele continuou me olhando mais um pouco. Fiquei meio tenso o resto das aulas. Sempre que dava espiava-o com o canto do olho. Ele não prestou atenção em nenhuma aula, até dormiu. Eu conseguiria passar um dia inteiro olhando-o sem cansar. Mas quando foi anunciado a hora do almoço eu sai correndo, de cabeça baixa. Eu estava com vergonha dele e não sei porque.


   Não o vi mais durante o almoço, nem quando as aulas retomaram nem nas oficinas. Não esperava encontra-lo ainda hoje. Eu fui de cabeça baixa pegar minha mochila que estava em cima da mesa. Não era preciso olhar para ele para saber que ele estava me observando e eu fiquei um pouco corado. Peguei meus pertences e virei para ir embora quando ele falou comigo. Como vai ficar estranho se eu só falar o que ele disse, vou escrever como foi o dialogo, se é que pode se chamar aquilo de dialogo.


- Oe - ele disse com uma voz calma mas forte.


- Me desculpa - eu virei para ele e me curvei encarando o chão - Não queria ter visto você e seus amigos, e não se preocupe não vou contar a ninguém que os vi fumando e bebendo.


- Ahm... tá. - ele soltou uma risada - Mas eu só ia perguntar seu nome.


  Preciso dizer que eu quis morrer naquele exato momento? Foi super humilhante, não consegui levantar o rosto, falei meu nome para ele e sai correndo da sala sem olhar para frente. Nunca andei tão devagar voltando para casa. Mas não conseguia e não estou consigo parar de pensar nele. Fica passando na minha mente todos os momentos em que eu o vi. O que está acontecendo comigo?





- Murai Naoyuki

3 comentários:

  1. *---* Adorei Hachi!!! Voce escreve muito bem! <3
    Que amor! Vou continuar lendo e dando Review wm todos os capitulos!
    Ahn, o pon apareceu tão pouco xD

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  2. Preciso mesmo dizer que ta incrível? *3*
    Achei tão emocionante, só lembrei do Arashi de paradise
    kiss quando você citou as características dos "bad boys".

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  3. Adorei, você tem muito talento para escrever parabéns!

    " Nunca andei tão devagar voltando para casa. Mas não conseguia, e não consigo para de pensar nele. O que está acontecendo comigo? "

    É o amooooorrrrrr ♫♪ ~apanha eternamente~

    Então, eu queria ser mais criativa pra fazer o comentário, mas como é o primeiro prometo melhorar nos proximos!

    E nem preciso dizer que vou dormir tarde hoje pq enquanto eu não ler todos os caps que vc já postou não durmo! u.u

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